O barro e o sagrado – a arte de Jorge da Cruz
Das mãos de Jorge Antônio da Cruz, o barro se transforma em fé. Artesão de Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sua obra respira o sagrado com a naturalidade de quem reza com os dedos. Conhecido por moldar santos no mais puro estilo barroco, Jorge não separa a arte da devoção: um está entranhado no outro como a argila entre os dedos do criador. “Quem mais procura meus trabalhos são os devotos e os que enxergam além do visível”, diz o artista, cuja sensibilidade aproxima o divino do humano. Em suas esculturas, os santos ganham traços de vida terrena — sorrisos suaves, cabelos encaracolados, expressões de quem já pisou este chão. Seu São Francisco é testemunho dessa brasilidade encantada: em vez dos tradicionais passarinhos, ele é acompanhado por araras, tucanos, jaguatiricas — uma fauna viva, vibrante, que brota do barro como flores do cerrado. “Gosto do jeito brasileiro de ser”, confessa Jorge. “E muita gente me diz que meus santos estão sempre sorrindo.” Em cada peça, uma reza moldada. Em cada rosto, um espelho do povo. Assim Jorge da Cruz constrói sua fé em forma de arte — e sua arte como forma de fé.