Luiza Maria da Silva é artesã há 53 anos. De Belo Jardim, no agreste de Pernambucano, começou a trabalhar com o barro criando panelinhas. Ainda muito jovem, suas primeiras peças eram levadas para a feira, que junto à sua avó conseguia arrecadar uma quantia para ajudar no sustento de casa.
O trabalho de Luiza dos Tatus é uma tradição da família. Mãe, avó, tias, cada membro contribuíram um pouco com a formação e criatividade de Luiza. Mas foi com a tia Edite, já falecida, que a artista recebeu o maior incentivo. “Até hoje eu lembro. Quando eu chegava, a primeira coisa que ela fazia era perguntar: ‘ô Luiza, tu vai aprender hoje?’ Ela era doida para eu aprender, me ensinou a armar, espalhar, tratar, fazer o fundo, tudo da panela… Tudo eu aprendi com ela, era como uma professora para mim”, conta.
Certa vez, ainda no início da carreira, selecionou 60 peças que havia produzido e partiu rumo a Recife para tentar vender em uma galeria de arte. A galeria havia sido montada pela artista plástica e designer Ana Veloso, que atuou como incentivadora do trabalho da comunidade paneleira de Belo Jardim, dando oportunidades e estimulando a preservação da arte local, contribuindo na mudança de vida dos artesãos.
O nome artístico foi de fato “registrado” após uma visita de Ana Veloso às suas
obras. Antes disso, as louças eram as peças mais populares no acervo de Luiza. “Ela viu, pegou o tatu e disse: ‘Gostei. Isso aqui é a sua mente, sua imaginação. Então vou colocar seu nome artístico de Luiza dos Tatus’”.
O tatu foi o primeiro animal feito por ela. Ele faz parte da vida de Luiza, pertence e é comum onde mora. Foi durante uma caminhada no meio do mato, enquanto pretendia caçar lenha para queimar o barro, viu um tatu e voltou para casa com vontade de reproduzir o animal. Além do tatu - peça que mais gosta de fazer - ela cria sapos, tartarugas (hoje é a sua maior peça), lagartixas, e calangos, animais bem característicos da região.
Os anos de experiência com o artesanato de barro lhe renderam não só muito amor pela arte que realiza, mas também muita vontade de compartilhar o dom que a vida deu a Luiza. Além de todo tempo que a artesã reserva para fazer as peças, ela também separa um momento do seu dia para ensinar tudo que aprendeu. "Tô velha e pretendo deixar essa profissão para os meus filhos, para minha família”.
Na história de vida da dona dos tatus, Luiza aparece como líder de uma família que se dedica a dar vida ao barro. Cada um colabora com um pouco, seja na produção, ou no estilo dos bichos. E essa união foi o que ajudou a superar muitos desafios. “Isso aqui tem um pouco de tudo. Isso aqui tem um pouco da minha família, e eu sei o quanto sofremos. Isso aqui tem um pouco de amor, de carinho, de tranquilidade. Isso aqui é um sossego para mim. Aqui é meu calmante.”
A delicadeza das peças de Luiza é fruto de mãos que trabalham com amor, carinho, atenção, cuidado e simplicidade. “Eu me sinto muito feliz em amar o meu barro. Me sinto muito feliz em trabalhar. Eu amo fazer o meu serviço. Se existe uma coisa que eu faço com amor, são essas peças. Às vezes eu vou dormir e fico pensando em algum bicho e digo ‘amanhã eu vou tentar fazer esse bicho’. Todas essas peças eu faço com o maior prazer”.
A sensibilidade da artista lhe trouxe muitas conquistas. Hoje, suas peças rodam o mundo todo. Recentemente, Luiza dos Tatus recebeu, merecidamente, o título de Mestra Artesã como reconhecimento do trabalho e dedicação ao artesanato de barro. “Foi a melhor experiência da minha vida ser reconhecida pelos meus 53 anos de trabalho”.
As peças de Luiza dos Tatus você pode encontrar aqui: Luiza dos Tatus