Ao falarmos de arte , Olinda e Recife nos levam a uma diversidade de artesanatos e artes que fazem parte do cenário dessas duas cidades. Quando nos deparamos com os casamentos coloridos, bolsas e mercados coloniais, também vendemos a arte pulsar nesses territórios de grande herança e expressão cultural, onde mãos habilidasas moldam o barro, madeira, tecido e rendas, resgatando tradições que são passadas por gerações.
O artesanato vai muito além de apenas uma decoração, ele conta histórias. Quando compramos um artesanato, temos um encontro entre partilha de saber e memórias, valorizando a trajetória do artesão e daquela peça tão rica em afeto e detalhes.
Cada peça carrega o tempo de quem a fez, o silêncio concentrado do intervalo, o gesto repetido que aos poucos vira forma, o olhar atento que consistência beleza no imperfeito. É arte com raiz e identidade. É história viva moldada com paciência, suor e emoção.
São justamente esses encontros — entre o fazer e o sentir, entre o artista e o admirador — que tornam o artesanato uma ponte entre o passado e o presente. Em cidades como Olinda e Recife, essa ponte é cotidiana, visível nas feiras, mercados, ateliês e calçadas, onde artistas populares seguem criando, resistindo e encantando com suas mãos.
Entre tantos nomes que mantêm essa chama acesa, está Paulo Marques — um artista que descobriu na madeira e no epóxi um modo de contar histórias com delicadeza e força.

PAULO MARQUES E A DESCOBERTA DA ARTE
Natural de Olinda, Paulo Marques talvez não imaginasse que, anos depois, seu nome estaria entre as artes mais sensíveis da cena local. Em 2001, fez a sua primeira peça, ainda sem pensar que ali nascia um artista. Começou por curiosidade, por tentativa. E foi assim, insistindo, experimentando e se aperfeiçoando, que ele encontrou um caminho de expressão, de beleza e de memória.
Foi em uma viagem para Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, que Paulo Marques teve o olhar tocado de vez. Ao observar o cotidiano sertanejo — pessoas carregando potes d'água na cabeça, levando lenha nos braços, enfrentando o dia com força e dignidade — nasceu nele o desejo de eternizar essas cenas em sua arte. A simplicidade, o esforço e a beleza escondida na rotina do interior se transformaram em formas delicadas. Cada escultura, a partir de dali, passou a carregar um fragmento desse Brasil profundo, vívido e sentido.


PERSONAGENS DA CULTURA E DA INFÂNCIA
Entre as peças mais pedidas de Paulo Marques estão figuras que representam a alma nordestina: a passista de frevo, sempre em movimento; o casal Lampião e Maria Bonita, ícones de coragem e tradição; o trio de forró, que parece tocar sanfona, zabumba e triângulo mesmo em silêncio. Mas uma das mais marcantes é a representação de mãe e filha — uma cena que, segundo ele, salvou a infância, as brincadeiras simples e a leveza dos primeiros anos de vida.
O processo é totalmente artesanal. Paulo começa com o arame, que se enrola em duas partes para estruturar o corpo. A partir daí, mede pernas e braços, moldando com paciência cada detalhe. A escultura ganha forma com o uso do durepox, que reveste a base metálica e permite esculpir as expressões, os movimentos e as sutilezas de cada personagem. Tudo feito à mão, peça por peça, com tempo, cuidado e emoção — como só uma verdadeira arte sabe fazer.
O VALOR DA PERSISTÊNCIA
Paulo Marques gosta de lembrar que nem tudo começou perfeito. No início, muitas de suas peças causaram estranhas — “olhava e perdeu esquisito”, como ele mesmo conta. Mas não desistiu. Insistiu, testou, errou, refez. E foi assim, na prática diária, que o artista se revelou. Com o tempo, não só dominou as formas menores como também passou a criar esculturas maiores, feitas em epóxi, repletas de detalhes e expressividade.
Essa nova fase ampliou seus personagens: além das figuras populares nordestinas, Paulo começou a esculpir personagens literários e universais, como Dom Quixote — símbolo dos sonhadores que seguem adiante, mesmo contra o vento. Talvez por isso essa figura o represente tanto: como ele, Dom Quixote também acreditou na força da imaginação e da persistência.
ARTE QUE TRANSFORMA, HISTÓRIA QUE PERMANECE
A trajetória de Paulo Marques é, antes de tudo, um exemplo de como a arte pode nascer da curiosidade, crescer com a persistência e florescer quando encontra espaço para ser reconhecido. Suas mãos, que um dia moldaram peças “esquisitas”, hoje dão forma a obras que emocionam, encantam e carregam a identidade de um povo inteiro.
Na Imaginário Brasileiro, acreditamos que cada peça feita à mão carrega muito mais do que técnica — carrega história, memória e alma. Por isso, valorizamos a arte tanto quanto a sua criação. Damos voz a quem molda, entalha, pinta e sonha com as próprias mãos. Celebramos não apenas o produto final, mas o caminho que cada artista percorre até chegar a ele.
Conhecer o trabalho de Paulo é se conectar com a beleza da imperfeição que vira poesia. É entender que o feito à mão tem tempo, tem alma, tem verdade.
🧡 Venha conhecer de perto as obras de Paulo Marques e de tantos outros artistas populares que fazem parte do nosso acervo. Visite o Imaginário Brasileiro — onde cada peça contém uma história e cada história fortalece a cultura do nosso país.